Os segredos do mamífero mais rápido do mundo



Cientistas estão estudando a evolução do sengi, o mamífero mais rápido do mundo que, apesar de pequeno e peludo, é considerado um parente distante do elefante.
Essa estranha combinação de características vem encantando os biólogos desde que a criatura foi descoberta, na virada do século 19.
À primeira vista, o sengi se assemelha a outro roedor qualquer - um mamífero pequeno, com o corpo coberto de pelos e que adora comer insetos - e foi dessa forma que esses animais foram inicialmente descritos.
Mas depois de décadas de estudos científicos se descobriu que essas criaturas podem guardar segredos significativos sobre a evolução dos mamíferos.
Os focinhos compridos, por exemplo, sugerem comparações com os elefantes. Há, inclusive, uma família de 18 espécies de sengi nativas da África conhecida como musaranhos-elefante.
Estranhamente, os cientistas nos anos 90 descobriram que, a despeito de seu tamanho diminuto, esses animais são geneticamente mais próximos dos elefantes do que dos musaranhos propriamente ditos.

Dieta
Os sengis pertencem ao ramo heterógeneo denominado Afrotheria, que inclui, entre outros animais, aardvarks, peixes-boi, dugongos, elefantes, hiracóides e os tenrecídeos de Madagascar.
Os hábitos dos senjis continuaram a surpreender os biólogos: sua dieta é baseada em cupins e formigas, um regime alimentar mais comum em mamíferos maiores, que não fazem ninhos como mamíferos pequenos, hibernam à noite e possuem ossos longos em seus pés.
Segundo os especialistas, essas duas últimas características são resultado de sua adaptação à corrida, que os torna únicos entre os mamíferos pequenos.
"Eu me tornei fascinado com os musaranhos-elefante enquanto passeava no deserto da Namíbia em 1990 e um desses animais atravessou o meu caminho. Eu fiquei surpreso com a velocidade daquela criatura", afirmou o professor Barry Lovegrove, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul.
Junto com seu aluno Metobor Mowoe, o professor Lovegrove estudou duas espécies específicas e os resultados acabam de ser publicados na revista científica "Journal of Experimental Biology".
Os sengis vivem uma variedade de diferentes habitats, de densas florestas a áreas abertas com poucas árvores, e todos compartilham uma mesma característica: sempre estão em movimento, correndo de predadores para garantir a sua sobrevivência.
Segundo o professor Lovegrove, esses animais, se levadas em conta as dimensões de seu corpo, superariam os guepardos como os animais mais velozes do mundo. "Há uma divergência entre os cientistas quando se faz esse tipo de análise comparada, pela qual se divide a velocidade máxima que um animal consegue atingir pelo comprimento de seu corpo".
Mas Lovegrove acrecenta que outros cálculos para medir a velocidade dos animais ainda não geram resultados satisfatórios, pois deixam de levar em conta todos os aspectos relacionados à massa corporal, que difere bastante entre mamíferos pequenos e grandes. "No entanto, por esse método, os musaranhos-elefante são os mamíferos mais rápidos da Terra, pesando menos do que 500 gramas", diz o estudioso.
Segundo os estudos conduzidos por Lovegrove, essas criaturas pequenas e peludas podem atingir velocidades de até 28,8 km/h.
Charada
Além dos testes de velocidade, a pesquisa analisou as características físicas desses animais. "Para correr rápido, um animal precisa de longas pernas para aumentar o comprimento de sua passada. Os únicos ossos que permitem tal atributo, resultado da seleção natural, são os pequenos ossos dos pés, os metatarsos", explica ele.
Ao observar registros já existentes sobre os sengis, os pesquisadores descobriram que as girafas são os mamíferos que apresentam a maior proporção entre os ossos da pata e das pernas. A segunda maior proporção é encontrada nos antílopes, que se adaptaram para correr de predadores atléticos. Imediatamente após os antílopes, vêm os pequenos sengis.
"Todos os mamíferos menores do que 500 gramas têm uma proporção entre os ossos da perna e da pata inferior a 1. Já essa relação nos musaranhos-elefante chega a 1.3", afirma o professor Lovegrove. "Para esses mamíferos, eles têm membros posteriores que são adaptados especificamente para correr rápido, muito rápido".
Todas essas características resultam em uma alta taxa metabólica e faz com que esses animais consumam muita energia. Pesquisas anteriores revelaram como esses pequenos velocistas entram em um estado de hibernação à noite, para diminuir a temperatura de seu corpo e preservar energia para a sua sobrevivência.
Para Lovegrove, cada nova revelação sobre os sengis adiciona mais uma charada à evolução dos mamíferos. "Estou tentando reunir as condições pelas quais os mamíferos ancestrais evoluíram tão incrivelmente rápido a partir do momento em que o asteróide exterminou os dinossauros, há 64 milhões de anos".

Fonte:g1.com


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